quarta-feira, agosto 27, 2008

O Brasil Desbotou

Para o Brasil as Olimpíadas terminaram com gosto de cabo de guarda-chuva. O vôlei masculino de quadra, um de nossos ouros garantidos de quadra perdeu. Acabou a hegemonia brasileira, a geração de Giba, Bernardinho e Ricardinho – não o esqueçamos, pois ele deve ter batido muito tambor de vodu e amarrado os nomes dos jogadores brasileiros na boa do sapo – se despede triste, de cabeça baixa.
Antes das Olimpíadas, algum site fez uma projeção das medalhas de ouro que o Brasil poderia ganhar: cinco. Ficamos em três. Não é bom, não é ruim, apenas um dado que não servirá para muita coisa nos próximos quatro anos
Ao longo das competições, e ainda mais um pouco durante essa semana, ouviremos falar em investimentos para o esporte, em falta de garra, em comodismo. Farão comparações entre o Brasil e o Quênia, Jamaica, Etiópia, Grã-Bretanha, dirão que o nosso desempenho foi muito ruim. Muito papo furado, tudo desfocado e repetitivo. Ouço essa ladainha desde as Olimpíada de Los Angeles, em 1984, as primeiras que acompanhei sabendo mais u menos o que estava acontecendo. Ouviremos a mesma conversa em Londres, 2012.
Olhar para o quadro de medalhas é uma idiotice. Os únicos países que se preocupam com o quadro geral de medalhas são os que pretendem fazer uso político das conquistas esportivas – EUA, China, a antiga URSS, Cuba. Países desenvolvidos não esquentam com a colocação geral nos jogos e valorizam devidamente seus atletas. Há esportes que não dizem nada ao brasileiro, mesmo alguns em que temos alguma tradição olímpica.
No Brasil há um fenômeno esquizofrênico em boa parte da mídia e na população em geral. Atletas lembrados apenas em épocas de pan-americano em Olimpíadas são cobrados exageradamente, carregam uma responsabilidade que não é deles. Como nossas chances reais de medalhas são geralmente poucas, os atletas que chegam em condições reais de alcançar o pódio são vistos como salvadores do mundo, como heróis, no sentido infeliz da palavra. Quando vencem, são exageradamente festejados, para que nos esqueçamos rapidamente dos que nos frustraram; aliás os que perdem são massacrados. Invariavelmente, pouco tempo depois dos jogos, todos são esquecidos – as pessoas, de ressaca dos jogos, querem saber de outros assuntos, os atletas que se virem.
Segue um resumão do que foram os jogos para os brasileiros.

E as Meninas?

Espero que a derrota do time de Giba – nesses jogos o time foi mais de Giba que Bernardinho, que estava meio Parreira – não ofusque a vitória incontestável do time feminino frente aos EUA. Finalmente elas chegaram lá! Perderam a fama de amarelar, jogaram realmente como as melhores do mundo! Apagaram o fantasma do 24x19, o trauma de se apequenar diante das cubanas – que perderam bonito para nós no Grand Prix.

Sacode a poeira e dá a volta por cima, Maurren!

Da acusação de doping, de quase encerrar a carreira prematuramente, após 24 anos de seca de ouro no atletismo, Maurren virou notícia boa! Três meses, depois de passar no Faustão e no sofá da Hebe, ninguém mais vai se lembrar dela.
E o Cielo?

Só se surpreendeu com o ouro de Cielo quem não o viu nadar no pan-americano. Falou-se em Caio Márcio, principalmente em Thiago Pereira, talvez, sei lá, por questões de publicidade, mas Cielo era o cara. Foi gostoso se emocionar com ele, que fez história na natação. Bonitão, provavelmente terá futuro como garoto-propaganda, mas popularizar a natação no Brasil não é com ele – esporte caro para s nossos padrões, deveria caber ao governo espalhar piscinas pelo país.

“RRRRRRRRRRRRRobert Scheidt”, como diria Galvão Bueno?

Robert Scheidt é um cara especial, campeão incontestável, conquistou sua quarta medalha olímpica, essa ao lado de Bruno Prada, e as meninas – não me lembro do nome delas – trouxeram um bronze, a primeira medalha feminina na vela. Mas, convenhamos, iatismo é esporte de elite, de pouca emoção para quem assiste e empolga muito pouco a massa. Para a grande maioria do povão, sem desmerecer o mérito de nossos medalhistas olímpicos, as conquistas serviram mais para preencher o quadro de medalhas.

Edinanci?

Sempre torço pela Edinanci, que tem uma trajetória peculiar no judô brasileiro. Na luta em que perdeu o bronze, a cara de desespero para se desvencilhar da coreana foi de partir o coração – mais do que a queda do Hippólito. Não trazer a medalha não faz de Edinanci uma perdedora.

“O Caso da Vara”

Fabiana Muren, atleta brasileira que tinha plenas condições de subir ao pódio, acabou perdendo a disputa porque sumiram com a sua vara! A russa recordista mundial – não me arrisco a escrever seu nome – não sabemos se cínica ou sinceramente, disse que só não emprestou uma vara para Fabiana porque não viu o que se passava no momento. Boicote? Sabotagem? Desorganização pura? O fato é que essa lambança não tirou o brilho da russa – Isinbhaieva?– que depois de conquistar o ouro ainda quebrou os recordes olímpico e mundial, que já eram dela. Fabiana merecia maior respeito. Sumir com a vara da atleta foi o fim do sarrafo!

E o futebol?

O masculino não merece comentário algum. O feminino perdeu na bola e não pode reclamar. Poderia ganhar? Sim, mas não jogou o suficiente para trazer o ouro. Apenas isso. Lamentamos porque Cristiane – mais até do que a Marta, que não jogou tudo que poderia – deu show nos jogos. Mas o esporte não tem compromisso com a justiça, ainda mais o futebol, que, como diria o doutor Sócrates, é o único esporte em que um time pode jogar melhor que o outro e perder. Contudo, esse não foi o caso.

Pangarés

Esporte chato, elitista e que, no caso do Brasil, teve cavalo desqualificado por problemas de saúde e por doping! Cavalo dopado é de doer!
Pareceu até metáfora da elite brasileira: manca ou dopada, almejando o glamour e alcançando o ridículo. Se machado de Assis fosse vivo, que crônica não escreveria sobre os nossos nobres cavaleiros

Basquete? Handebol?

Mais atitude e melhor sorte em Londres. Apesar de todas as adversidades que esses esportes enfrentam no Brasil – cartolagem incompetente, falta de espaços e recursos, tratamento mais do que amador – poderiam ter ido adiante. Se apequenaram, essa é a verdade.

E o Diego?

A ginástica é o mais cruel dos esportes olímpicos. O atleta pode apresentar exercícios perfeitos e ser desclassificado por um pequeno deslize, no último momento, como foram os casos do brasileiro, do romeno e da chinesa, todos entre os favoritos. Aí, aquele atleta que nem foi tão impressionante, mas que não tropeçou, não caiu, não se desequilibrou, até porque ousou menos, acaba levando.
Mas triste mesmo foi ver o Diego pedindo desculpas ao Brasil por ter errado. O Brasil não tem o menor direito de exigir nada de seus atletas! Diego, por mais talentoso que seja, só é lembrado pelo grande público em época de Olimpíada, sofre com o preconceito por praticar um esporte que não é considerado “de macho” e por seu jeito, digamos, “meigo” de falar. Agora, só vão se lembrar dele em Londres, e isso se ele estiver em condições de disputar o ouro novamente, e ainda dirão: vê se não amarela dessa vez, ô rosa-choque!”


E a Falavigna?

Em Atenas bateu na trave; agora levou o ouro. Vai ter festa na federação do esporte dos chutes, churrasco na casa dela e só.

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