sábado, outubro 25, 2008

EMBRAFILME

Em 1915, Dolores Salgueiro, uma das divas do teatro brasileiro, estrelou o filme As Flores da Praia, de Paulo Portela, baseado no livro homônimo de João Carlos Pilares, clássico do romantismo brasileiro, apesar de andar meio esquecido. As cópias não foram preservadas.
Ainda era a época do cinema mudo. As mulheres que faziam teatro ou cinema, embora mantivessem trabalhos que agradavam ao público, eram vistas com muito preconceito pela sociedade, que associava teatro à prostituição, promiscuidade e pequenos delitos. Pelo menos no caso de Dolores Salgueiro, isso era a mais pura verdade.
Dolores amava as artes dramáticas, que lhe rendiam muito pouco dinheiro, até porque seu talento era diminuto. Os parcos papéis que conseguia, vez por outra praticamente figurações, eram conquistados na base dos favores íntimos. Vida de atriz, nesse país, nunca foi fácil.
As Flores da Praia, trabalho que Dolores conseguiu fazendo uma espécie de permuta erótica, alcançou relativo sucesso. Muitos ainda seguiam às salas de cinema mais pelo espanto de verem fotografias se mexendo do que pelo filme em si. Dolores Portela era uma mulher muito bonita, o que também ajudava na curiosidade do público. Seu par romântico na história, interpretado pelo ator César Viradouro, também chamava a atenção pelos dotes físicos. Também prestou favores a alguns produtores, empresários e diretores que cultivavam opções sexuais alternativas, para cavar seu espaço nas artes nacionais. O amor à arte exige alguns sacrifícios.
Dolores Salgueiro nunca conseguiu o respeito da sociedade, mesmo com sua notada evolução artística ao longo de sua carreira. Sempre era vista como a “biscate carioca”, seja no teatro, seja no cinema. O povo consumia e, com o tempo, passou até a admirar seu trabalho de atriz. Mas teatro e cinema não são coisas de mulher séria.
Em 2005, a ex-dançarina de axé, assistente de palco de programas de auditório e atriz de duas peças de retumbante fracasso, Sheila Leopoldina, estreou no mundo do cinema pornô nacional e internacional. Seus dois primeiros filmes chegaram ao exterior e a garota concorreu até a prêmios pela performance. Com um corpo escultural e uma sincera fome de sexo, como poucas vezes se vê, principalmente na vida real, Sheila Leopoldina alcançou fama e dinheiro. As festas de lançamento de seus trabalhos são badaladíssimas, consegue contratos publicitários invejáveis – preservativo, gel lubrificante, revistas masculinas adultas, sex shop – e não é raro vê-la na TV, divulgando seu trabalho, opinando sobre os mais variados assuntos, como a corrupção em Brasília, legalização da maconha, projeto genoma e os conflitos na Geórgia.
Sheila Leopoldina, grande ícone das artes nacionais, já declarou que seu grande ídolo é a atriz Dolores Salgueiro, artista maior da dramaturgia brasileira, que sempre foi bastante injustiçada e cujo trabalho abriu portas para que outras mulheres de fibra, como a própria Sheila, pudessem conquistar seu espaço e mostrar seu talento.
Agora também investindo na carreira de empresária, Sheila Leopoldina lança no mercado pornô a ex-obreira da Igreja Pangéia de Cristo, a ninfetinha Marcella Sapucaí. Não resta dúvida de que essa tal de Dolores Salgueiro nasceu fora de época, mesmo.

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