segunda-feira, setembro 28, 2009

O Anticristo de Lars von Trier

Começo sem suspense: o novo filme do diretor de Dogville e Manderlay é, sim, chato. Mas é preciso dizer que coisas chatas também podem perturbar – uma das funções da arte.
O Anticristo é um filme grotesco: faz o sexo e o amor parecerem coisas horrendas, tem um ritmo irritantemente lento que nos incomoda desde a primeira sequência; até uma tomada de sexo explícito rola. Se a intenção do diretor é atormentar seus espectadores, não tenham dúvida de que Lars von Trier alcança extremo êxito.
Enquanto assistia ao filme ficava pensando o tempo todo sobre o que levaria os atores a participar de um filme como aquele: será que o roteiro sugeria outro tipo de coisa? Estavam precisando desesperadamente de dinheiro? Viam na história e no prestígio de trabalhar com um dos diretores “cabeça” mais aclamados do mundo uma possibilidade de participar de uma obra de “vanguarda”? O que se passa pela cabeça do próprio diretor, honestamente, me intriga menos, pois todo artista sempre consegue ver sentido e “função” em sua obra; aliás, de vez em quando apenas o próprio autor consegue ver algo que justifique seu trabalho.
Mas imagino que O Anticristo tenha saído do jeito que seu diretor desejava, ou ao menos muito próximo disso. O trabalho de fotografia é simplesmente deslumbrante, e é responsável por alguns momentos em que a plateia se vê lançada para fora da poltrona e tem suas emoções realmente reviradas – mas as cenas escatológicas, que misturam sexo e violência de um modo realmente insano, é que ficam em nossa memória por mais tempo; ao menos ficaram na minha.
O filme não quer agradar, como todo mundo já imaginava. Ele lida com sensações, como ansiedade, medo, angústia, e até dor, de um jeito que não vemos todo dia. É sensorial ao extremo, e nesse ponto é um grande sucesso.
O Anticristo de Lars, que não relação alguma com Nietzsche, Marilyn Manson, leituras equivocadas do Apocalipse e que dispensa até mesmo o próprio satanás, não é um filme que eu recomendaria a ninguém, mas estou escrevendo, sem obrigação alguma, sobre ele; algum significado isso deve ter...

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