domingo, fevereiro 21, 2010

Veríssimo em grande estilo

Os Espiões faz rir. Precisa de mais?

Gostando ou desprezando, é impossível negar a importância de Luis Fernando Veríssimo na cultura brasileira. Encontrar uma coleção de livro didático no Brasil não tenha ao menos uma crônica do escritor gaúcho é quase impossível; muitos de nós curtimos programas de televisão que estão relacionados a ele; somos muitos os leitores de suas colunas pelos jornais brasileiros e já houve períodos em que o filho de Erico Verissimo foi o autor brasileiro que mais vendia livros no Brasil, desbancando, por exemplo, Paulo Coelho. Aliás, é possível que essa popularidade, via lista de best Sellers e programas de televisão, seja o principal motivo de muitos torcerem o nariz para Luis Fernando Veríssimo. Infelizmente, quando o assunto é cultura, não são poucos os que associam sucesso a falta de qualidade.
É bem verdade que qualquer um que tenha como profissão a produção semanal de uma série de textos não acertará sempre – esta talvez seja a principal inconveniência para o escritor profissional: a demanda enorme de textos reduz a qualidade final do produto. Mas é de se notar que a quantidade dos trabalhos ajuda a firmar o estilo de quem escreve, que é facilmente reconhecido logo nas primeiras linhas, como acontece em Os Espiões, seu mais novo livro – que, aliás, figura em algumas listas dos mais vendidos.
Os Espiões não é um romance. Talvez seja uma novela. Mas eu diria que é uma típica crônica de Veríssimo, “esticada” o suficiente para termos em doses romanescas todas as características do autor. O enredo é o seguinte: um parecerista alcoólatra de uma editora fica intrigado com os originais de um livro – mal escrito, diga-se – a ponto de mover seus amigos de copo em direção à cidade de Formosa, localizada no interior do Rio Grande do Sul, para desvendar alguns “mistérios”. Nada de personagens complexas, esféricas, nada de enredo intrincado. Mas a diversão é garantida.
E é justamente aí que está o sabor da obra. Trata-se de um livro para lermos por puro divertimento. Apesar de alguns críticos o terem vendido como um romance policial, os “espiões” da obra andam aos esbarrões, com suas trapalhadas que pouco produzem. A paródia do gênero policial não tem outra função que a de provocar o riso.
O certo seria dizer que Os Espiões, o livro, a exemplo de boa parte da obra de Veríssimo, é um delicioso livro de humor, com as mesmas tiradas, hipérboles, ironias e eufemismos que caracterizam o autor, para citar algumas das figuras de linguagem que são explicadas nos livros didáticos com trechos de crônicas do escritor.
Na verdade, seja pela editora que lançou o livro – a imponente Alfaguara – seja pelo normal preconceito que paira sobre a facção chata da crítica, dizer que um livro de humor é bom e recomendável é sempre temerário. Essa gente sisuda que afasta o leitor comum da literatura, ao dizer, ou sugerir, que o que é engraçado não tem a “elevação” necessária para ser chamado de “boa literatura”. O próprio selo Alfaguara, acostumado a lançar obras "sérias", parece querer dar um ar mais "acadêmico" a Veríssimo. Ainda que não trate de temas “elevados” e que contenha as fissuras naturais em textos que são “esticados” demais – é notória a falta de “liga” nos momentos definitivos da história, não vou mentir – Os Espiões é uma leitura leve, divertida, saborosa e indispensável, para terror dos críticos de gabinete e delícia do leitor comum e bem-humorado.

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