sexta-feira, março 12, 2010

Serra e APEOESP: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

O governo Serra, ao contrário do que vemos nas propagandas muito enganosas, não valoriza nem de longe a Educação. os salários pagos aos professores são vergonhosos, aviltantes, uma verdadeira humilhação para quem passou anos estudando e obteve uma qualificação específica. A divisão do magistério por categorias coloca toda a classe do magistério numa situação de conflito, cada um vendo o colega como um inimigo pronto para tomar seu emprego, e não como um colega de trabalho. a ideia de que o professor temporário, aprovado em prova classificatória, deverá ficar um ano fora da sala de aula é tão absurda e perigosa que poderá, nos próximos anos, afastar milhares de pessoas da profissão: ora, sem concursos regulares que atendam à demanda da classe, muito menos a necessidade dos alunos, e ainda com a “promessa” de trabalhar um ano, recebendo um salário ridículo, e de ficar um ano desempregado, já que as escolas privadas não absorverão toda a mão de obra excedente (se bem que é impossível que o governo possa manter esse rodízio se continuar aplicando as famosas provas: sempre haverá um descompasso) torna a profissão docente em um “bico”, em complementação de renda, em algo impossível de ser visto como carreira.
Por esse lado, a greve dos professores da rede estadual paulista é mais do que legítima, necessária, urgente!
Por outro lado, a APEOESP, que há pelo menos um ano e meio sabe que o governo pretende aplicar as provas para os professores temporários, passou todo o ano de 2009 sem nada fazer a respeito. Pede, apenas, que os professores não sejam avaliados, mesmo sabendo que o número de profissionais desleixados nessa área, que não cumpre com as mínimas exigências da profissão, é grande demais para ser ignorado. Sugere que o plano de carreira do magistério seja baseado apenas no tempo de serviço, o que não garante, em hipótese alguma, a qualidade do trabalho do profissional e discrimina os novos docentes. Além disso, a recusa às avaliações sugere à sociedade que o professor tem medo de ser, literalmente, posto à prova, e nos força a ouvir argumentos no mínimo bastante questionáveis, como “uma prova não avalia ninguém”, sendo que muitos dos professores que repetem esse mantra mal interpretado de algumas correntes pedagógicas não abre mão de uma avaliação escrita quando o assunto é “fechar as médias” de seus próprios alunos. Não é reivindicado a sério, como todos sabemos ser fundamental, que o professor tenha em sua grade horária um período voltado para capacitação constante, a famigerada “formação continuada” presente em todos os discursos, mas inviabilizada devido à enorme jornada que os profissionais da educação precisam cumprir. Para investir em sua formação pessoal, o professor precisa abrir mão de parte de seus ganhos, que já são bastante escassos.
Também é fato que o governo, ao avaliar o professor, precisa oferecer condições de que ele possa se manter atualizado. Pela deterioração histórica da profissão docente e da própria educação brasileira, pela qualidade péssima de boa parte das faculdades, é impossível cobrar formação adequada dos docentes sem oferecer condições de que o profissional realmente tenha acesso a essa informação. As oficinas pedagógicas precisam ser realmente atuantes, com profissionais gabaritados, precisa ser acessível a todos os professores da rede, os professores precisam frequentá-las não aos sábados e nas horas livres, mas dentro de seu horário normal de trabalho. A avaliação é fundamental para manter a qualidade da educação, mas só é justa após a formação adequada ser oferecida. Plano de carreira baseado apenas no tempo d serviço é praticamente um convite à inércia.
Tem mais.
A alegação do governo de que a greve dos professores não passa de um movimento político é uma aberração. Toda greve, toda manifestação coletiva, é política, e é saudável que seja assim. Causa estranheza um governo que conta com várias pessoas que lutaram e se organizaram contra a ditadura, apelar para um argumento tão alienado e vazio. Da mesma forma, proibir os professores “categoria O” que trabalham sob o tal contrato que não oferece benefícios, apenas obrigações e um compromisso preestabelecido de deixar o estado me 2011, é um ato praticamente fascista, além de anticonstitucional. Todo trabalhador tem direito de fazer greve, em especial o que está sendo profundamente maltratado, como e o caso do professor da rede estadual de São Paulo, seja ele efetivo, estável ou de qualque r outra categoria.
Contudo, constranger, amedrontar, ameaçar ou discriminar o professor que não faz greve, como têm feito alguns militantes da APEOESP, é algo tão arbitrário quanto a perseguição que o governo Serra tem imposto aos professores contratados. Os professores que temem perder seus empregos por conta da cláusula fora da lei que proíbe a greve, não devem deixar de trabalhar e deveriam ser apoiados pelos colegas que estão livres dessa imposição ditatorial. Em vez disso, o argumento da APEOESP é que de que esses professores que se recusam a participar ativamente da greve, por uma razão absolutamente compreensível, estarão todos desempregados ano que vem. Ficamos, os professores da categoria O, entre ameaças de cá e de lá.
Para encerrar, cabe ressaltar que o governo Serra, que finge se preocupar com a qualidade do ensino, mas que no fundo apenas se especializa em maquiar estatísticas e dados oficiais, não leva a sério a educação, pois tem garantida para as classes mais privilegiadas do ponto de vista econômico as escolas particulares e, posteriormente, um bom número de vagas nas universidades públicas – que, se depender dele logo cobrarão mensalidades. Por outro lado, a APEOESP, ao defender, numa generalização absurda, o mal profissional, ao fugir da avaliação e ao repetir um discurso demagógico que transforma o professor em massa de manobra, também não demonstra grande interesse em melhorar a educação do estado. se o único mérito do professor que deve ser levado em conta é o “tempo de casa”, se a avaliação é, para eles, um disparate, não faz sentido cobrar cursos de capacitação exigir melhores condições de trabalho, material didático e espaço de ensino adequado. Daqui a pouco – e tenho a impressão de que isso não tarda nada – pelo que vemos por parte do governo e por parte da APEOESP, não fará sentido ensinar ou aprender...

Um comentário:

Quase nada... disse...

Nossa!!! É realmente isso.

Infelizmente a sociedade, o governo e o próprio sindicato não valoriza a nossa profissão.
Amo ser professora, adoro meus alunos, me realizo em vê-los aprendendo...tenho paixão em ensinar...mas me decepciono diariamente o quanto somos humilhados, pré julgados e pessimamente remunerados...

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