quarta-feira, setembro 08, 2010

Nietzsche está morto?

É do bigodudo a afirmação de que Deus está morto. Numa represália bem-humorada e, ao menos para os crentes, verdadeira, lapidaram a frase “Nietzsche está morto” e a atribuíram a Deus.
O certo é que Deus, que não erra, jamais afirmaria tamanho absurdo. Nietzsche está vivo, talvez até mais do que no período em que andou pela terra. Não digo com isso que ele plana por aí como alma penada, que forjou sua morte e está passando férias na Jamaica ou na Holanda, tampouco me refiro a uma vida após a morte. Nietzsche está vivo filosoficamente, politicamente e culturalmente, ou não estaríamos aqui preocupados em refutar suas afirmações e o fascismo, o nazismo, o futurismo, o imperialismo americano, o instinto de superioridade cultural europeu, a xenofobia, o hedonismo, o materialismo e outras pérolas da sociedade contemporânea não seriam uma realidade tão marcante. Ele não criou nada disso, mas todas essas práticas, a partir do século XX, passam pelos escritos – e pela aprovação – do prussiano.
Nietzsche, o sósia de Camilo Castelo Branco, está mais vivo do que nunca. A ele se dirigem filósofos, sociólogos, políticos e artistas; nele se encontram intelectuais de várias vertentes; por sua cartilha rezam várias pessoas.
Por outro lado, Deus também está vivo, embora com muito menos relevância e prestígio do que mereceria; ao menos nos meios intelectuais, o filósofo da Baviera tem mais moral que o divino. Digo mais: Nietzsche é o deus, eleito por muitos, dessa nossa “pós-modernidade”. Mas, é necessário que se diga – na verdade, creio que nem seja tão necessário assim – que não estamos melhores com esta nova divindade do que estaríamos se nos voltássemos para o Deus do cristianismo; a História, até mais do que a teologia, está aí para nos dar razão.
Nietzsche está vivo, por exemplo, quando os mais fracos são desprezados, quando moradores de rua são queimados, quando presos de guerra são torturados, quando soldados estadunidenses violentam afegãs e iraquianas, quando Cuba deixa de receber ajuda do exterior, quando policiais espancam adolescentes inocentes pelos becos das metrópoles brasileiras, quando missionários cristãos são queimados vivos, linchados e esquartejados nos países muçulmanos do Oriente Médio e da África. Ele também está vivo nas palavras dos ateus que julgam os crentes, em especial os cristãos, seres inferiores do ponto de vista intelectual, moral, social...
Veja bem: não digo que Nietzsche pregou abertamente a favor dessas coisas, nem que o policial truculento que humilha os cidadãos na baixada fluminense conheça profundamente a obra Bigode; eu também não conheço – e aqui se deleitarão os que, ao lerem estas linhas, discordarão de tudo quanto escrevo; digo: dane-se. Mas as ideias do prussiano estão espalhadas pelo mundo, postas em prática por quem o admira, por quem nunca ouviu falar dele, por quem certamente seria desprezado pelo próprio Nietzsche. Essa constatação empresta muita vitalidade à obra desse renomado filósofo...

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