quinta-feira, junho 28, 2012

Entre a vida e a Libertadores 2012



No segundo jogo entre Santos e Vellez, meu pai e meu irmão vieram assistir à partida aqui em casa. Sou casado há quase dois anos e foi a primeira vez que assistimos a um jogo aqui em casa. Meu irmão trabalha à noite, meu pai não é muito de sair de casa. Com eles também veio a família de um amigo que conheço há 30 anos, desde os nem tão saudosos assim tempos de pré-escola, mas esse sempre está por aqui, com ou sem jogos.
O jogo foi truncado, ruim, e não deixou muitas esperanças de que a gente pudesse vencer pela segunda vez consecutiva. Mas torcemos juntos, nos angustiamos juntos, nos divertimos juntos, e vencemos juntos, ficamos aliviados juntos. Valeu mais que algumas vitórias mais fáceis.
O jogo contra o Bolívar, na Vila, eu assisti em casa, sozinho. O Santos precisava vencer. Foram oito gols, sendo que pelo menos seis foram golaços. Quando minha esposa chegou em casa e eu falei o resultado, ela achou que eu estava brincando e que o Santos havia perdido. Tolinha.
Quando Neymar, Ganso, Arouca, Kardec e companhia já davam olé naqueles bolivianos cavalos, recebi um telefonema da minha sobrinha. Não, não seria o melhor momento para ligar, o pai dela também é santista e gritava do outro lado da linha a cada desperdício do time da Vila. Ela queria me avisar que fora aprovada no vestibular. O jogo ficou em segundo plano.
No segundo jogo contra o Inter, minha sogra internada, o coma. Recebemos a visita, na hora do jogo, de alguns amigos que queriam saber como estávamos, eles mesmos haviam perdido um ente muito querido poucos meses antes. O jogo terminou empatado, o que para o Peixe não deixou de ser lucro. Neymar perdeu alguns golaços, mas, quando nossos amigos foram embora, a tristeza pela proximidade da tragédia era bem menor, e não foi pelo jogo.
No segundo jogo contra o time peruano de escrita chata, recebi amigos em casa, mas uma chuva daquelas derrubou o sinal e não vimos quase nada do jogo, que foi mais ou menos por causa da chuva. Enquanto o jogo não reaparecia na tela, me deliciei com o filho desse meu amigo quase irmão – logo, os filhos dele são quase meus sobrinhos – de três anos incompletos, lendo as histórias da Branca de Neve e da Cinderela lá do jeito dele, ou seja, pelo que ele conseguia concluir vendo as figuras. “ela tá sem sapato!” e “a princesa tá morrida!” foram as frases que ficaram na memória dessa noite.
No primeiro jogo contra o Inter, também estava com visita em casa. Vi dois gols antológicos.
No primeiro jogo da Libertadores, contra aquele outro time boliviano que sempre faz papelão, eu pensei que a minha operadora não tinha o canal da Libertadores no pacote. Descobri por acaso, na hora do jogo, e vi o Santos perder, mas jogando muita bola. Fui dormir cheio de sonhos futebolísticos que não se realizaram.
Agora, no primeiro jogo contra o Corinthians, estávamos com a Nina em casa, um filhote de Maltês que trouxe a nossa casa uma felicidade felpuda e agitada. Ela comeu umas pipocas que caíram no chão e ficou doente até conseguir pôr para fora o que lhe afligia. Sofri mais pela Nina do que pelo jogo, e olha que perder para o Corinthians sempre dói.
No segundo jogo, sem visitas em casa, não jogamos nada e perdemos, apesar de empatarmos. No dia seguinte eu tinha entrevista para o mestrado, o que, na hora da partida, não me afligia tanto.
Na primeira final entre Corinthians e Boca, assisti ao primeiro tempo sem prestar atenção e fui dormir.
Entre uma rodada e outra do campeonato, perdi minha sogra, que era corintiana. Ela estaria empolgada.Passei uma semana tentando torcer para o Corinthians, mas não consegui. Desde o começo da Libertadores, escrevi dois livros infantis em versos, que o amigo e parceiro Daniel Argento está ilustrando e diagramando. Mudei de escola. Revisei para algumas editoras. Chorei bastante. Sorri menos. escrevi outras coisas. Voltei a nadar, mas pouco, por causa do ombro. Tive uma suspeita de dengue e uma hipoglicemia que quase me empacotou. Passei a amar um pouco mais a minha família. Repudiei Lula, Maluf, Hadad, Soninha, Serra, Demóstenes, algumas revistas semanais, jornais e emissoras de televisão. Li muitos fragmentos de livros, alguns inteiros, incluindo Cabeça a prêmio, de Marçal Aquino. E, com tudo isso, fiquei com aquele gosto de vida vivida pela metade.

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