domingo, dezembro 16, 2012

Leve suas batatas, Corinthians



As brincadeiras e provocações são elementos que tornam o futebol mais divertido, disso ninguém tem dúvida. Lembrar feitos vergonhosos do time adversário, fazer trocadilhos, exaltar a falta desse ou daquele título, são coisas que animam as rodas de conversa, causam risos, preenchem os vazios das conversas constrangedoras. A brincadeira com o time adversário só fica desagradável quando o torcedor é chato e desagradável por natureza.
Todas as provocações não grosseiras, todas as piadas não estúpidas, todas as lendas não difamadoras são válidas até um time sair vencedor. A partir daí, o normal é esperar que os vencedores curtam a vitória e que os perdedores reconheçam a superioridade do adversário, ou que se calem e deem passagem ao campeão. A deveria ser simples assim. Como Machado já nos mostra com a filosofia humanitas, lá nas Memórias do cínico Brás Cubas: ao vencedor, as batatas!
Acontece que, infelizmente, o mundo é povoado por pessoas rancorosas, invejosas, que amam tripudiar, humilhar, provocar para além do limite da amizade e do bom-senso.o mau vencedor, na hora da vitória, passa a maior parte do tempo insultando os adversários, enquanto o mau perdedor tenta desmerecer o ganhador, fica relembrando em tom de agressão as conquistas do seu time, caça desculpas esfarrapadas para justificar o êxito do outro. Aí o que deveria ser legal vira uma coisa desagradável, chata, pedante, canhestra.
Em São Paulo temos quatro times grandes na história do futebol. Cada um deles tem seus momentos de glória e de ocaso, de magia e de mediocridade, de arte e do mais barato prosaísmo. Agora é a vez do Corinthians. Deixem os caras comemorar, o time deles, para levantar a taça de campeão mundial de clubes venceu um campeonato nacional, outro continental e desbancou o campeão europeu. O título é incontestável.
Os são-paulinos precisam saber que a conquista de hoje não apaga os diversos títulos de seu time, que é grande, o que mais conquistou Libertadores e mundiais entre os clubes brasileiros. Mas hoje quem manda no futebol é o Corinthians, gostemos ou não. Os palmeirenses, em baixa por conta do rebaixamento, não precisam ranger os dentes de ódio. Têm o privilégio de torcer para um clube que teve Ademir da Guia entre seus maestros, que já venceu Libertadores e que teve o maior time brasileiro dos anos 90, aquele do Edmundo, do Muller, do Roberto Carlos, do Cafu, do Rivaldo… lembrem-se de que o Corinthians, hoje campeão mundial, também passou por um rebaixamento e conseguiu dar a volta por cima de um jeito extraordinário. Aprendam, pois já é tempo.
Santistas como eu, que torceram para o Chelsea como se aquele uniforme azul fosse o nosso comemorativo do centenário, se não puderem dar os parabéns para o time do Parque São Jorge, fiquem calados. Somos privilegiados por torcer para o clube da Vila Belmiro, de todos aqueles craques tão conhecidos. Tivemos nossa chance ano passado e deixamos que o medo nos miasse; tivemos nossa chance esse ano e preferimos a letargia dos craques arrogantes à garra dos medianos esforçados. Contribuímos para a festa corintiana. Deixemos os fogos pipocarem, as confusões pueris sobre imigração e excursão, as contas duvidosas sobre ser campeão ou bi, os verbos no modo imperativo clamando por sucções de lado. Aplaudamos ou nos calemos: o que passar disso é pura chatice, semente de amargura, rebaixamento ético.
Que cada um de nós saiba reconhecer os méritos dos adversários e que saiba curtir sua dor em seu lugar, sua alegria sem sede de vingança. É essa fúria desproporcional que faz os outros antipatizarem com o seu clube. A nossa alegria não precisa ser temperada com a humilhação alheia; a nossa tristeza não precisa virar ódio. E que o jogo siga em 2013, com novas batatas a serem conquistadas e assadas

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