Vamos ser bem sinceros? Caso não jogue uma partida
excepcional hoje, contra a Colômbia, esta seleção deixará menos saudades do que
a de 90, famigerada ao contrário, só lembrada pelos provocadores argentinos.
Hoje, a disputa começa para o Brasil − e também pode ser que
termine. Contra o Chile, vimos um time nervoso, jogando contra si mesmo,
intimidado pela presença da própria torcida, com tanto medo de errar que,
tirando Hulk, sequer tentava, mesmo, acertar. Se o adversário também não
tivesse respeitado em excesso a seleção brasileira, teriam escrito um capítulo
da história do futebol chamado de "Mineiraço".
Contra a Colômbia, precisa haver um jogo de futebol, apenas.
Neymar estava certo ao dizer que o time precisa jogar como se estivesse
brincando com os amigos no quintal de casa. Isso não quer dizer que a seleção deve
ser irresponsável do ponto de vista tático, mas que deve jogar leve, se lembrar
que não há outras implicações, nada de defender a pátria, nada de ser
"brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Futebol, apenas.
A torcida que tem comparecido aos estádios, mal-educada, que
trata os adversários como inimigos figadais, que joga sobre a seleção um
orgulho e um anseio protofascista de afirmar uma superioridade que, em termos
futebolísticos, não pode mais ser revindicada por nenhum país, deve ser ignorada.
Esta pensa estar em uma guerra, não se diverte e não apoia o time, pelo
contrário: mitificando a seleção como a prova de nossa superioridade, não
aceitará nada além da vitória e, como qualquer grupo arrogante e covarde,
abandonará os que considerar fracos pelo caminho. A seleção deve jogar para os
torcedores que estão fora dos estádios, os que esperam esforço, empenho,
vontade, sim, mas sobretudo almejam ver um time que jogue futebol, que busque o
gol, que improvise.
Caso queiram entrar para a história de modo positivo, os
jogadores deverão, a partir de agora, ir além da garra e fazer partidas
convincentes, criar jogadas que entrarão para a história, apresentar algo a
mais que cantar o hino como se estivessem saudando algum César no Coliseu.
A Colômbia, nesta Copa, tem jogado melhor, fez mais gols,
tem o artilheiro da competição, James Rodriguez, e um jogador habilidoso e
incisivo, Cuadrado. O Brasil tem um time que, se decidir jogar, se fizer uma
partida muito melhor do que todas as anteriores, pode surpreender. Para tanto,
é preciso entrar em campo sem o peso de achar que são a pátria de chuteiras. Há,
é claro, uma tradição que precisa ser defendida, mas ela permanecerá para além
do resultado do jogo de hoje. Pelé, Garrincha, Ronaldos, Rivaldo, Romário,
Zico, Tostão, Falcão, Rivelino, Gerson, Reinaldo não são fantasmas a assombrar
a Granja Comary, são vultos históricos, a quem se deve reverência, não o
próprio sangue. Se é verdade que os jogadores, hoje, às 17h, estarão representando um país inteiro, também é
verdade que a nossa soberania, nossas vidas, não dependem do resultado contra a
Colômbia. É bom que a seleção brasileira saiba que a pátria só usa chuteira nos
dias de folga.
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